Os dados biográficos que selecionamos servem para ilustrar a vida de Edith Stein como busca da verdade sobre si e sobre a natureza humana. Além disso, explicitam de que modo o encontro com Deus no interior de sua alma lhe revelou aspectos ainda mais profundos da natureza humana e da sua própria pessoa, levando-a ao caminho do Carmelo, numa vida de intimidade com Deus, e por fim culminando com sua livre entrega por amor a Ele e ao seu povo – o povo judeu.
A vida de Edith Stein é por si só um exemplo, não apenas da possibilidade da filosofia cristã, mas de sua realidade. O fato de Edith Stein ter sido canonizada não invalida nem enfraquece a força e a originalidade de sua filosofia, pelo contrário, a torna ainda mais interessante e desafiadora. É o que aparece nessas reflexões feitas por João Paulo II, por ocasião da canonização de Edith Stein em 11 de outubro de 1998: Santa Teresa Benedita da Cruz, “o exemplo do ideal de liberdade em um século atormentado”.
O amor de Cristo foi o fogo que ardeu a vida de Teresa Benedita da Cruz. Antes ainda de se dar conta, ela foi completamente arrebatada por ele. No início, o seu ideal foi a liberdade. Durante muito tempo, Edith Stein viveu a experiência da busca. A sua mente não se cansou de investigar e o seu coração de esperar. Percorreu o árduo caminho da filosofia com ardor apaixonado e no fim foi premiada: conquistou a verdade; antes, foi por ela conquistada. De fato, descobriu que a verdade tinha um nome: Jesus Cristo, e a partir daquele momento o Verbo encarnado foi tudo para ela. Olhando como Carmelita para este período da sua vida, escreveu a uma Beneditina: “Quem procura a verdade, consciente ou inconscientemente, procura a Deus”. […] No fim do longo caminho, foi-lhe dado chegar a uma surpreendente conclusão: só quem se une ao amor de Cristo se torna verdadeiramente livre. 1
João Paulo II
Infância e juventude
(1891-1912)
1891
Edith Stein nasce a 12 de outubro na cidade prussiana de Breslávia (atualmente Polônia), no seio de uma família judia, no Dia do grande perdão – festa da Expiação, o Yom Kippur.
É a menor dos onze filhos que teve o casal Siegfried Stein e Auguste Courant.
Quatro dos seus irmãos morrem muito cedo. Ficaram: Paul, Else, Arno, Frieda, Rosa, Erna e Edith.
1893
A 10 de julho morre o pai de uma insolação e sua mãe assume o comércio de madeira que levava seu esposo.
A capacidade da mãe de levar adiante os negócios e a família será um pressuposto importante na formação do caráter feminista de Edith.
1897
Em seu aniversário de seis anos Edith implora para deixar o “Jardim de infância” e é aceita, a título de experiência, para iniciar os estudos primários no Liceu Vitória, em sua cidade natal, onde já estudava Erna, a sua irmã mais próxima e amiga inseparável.
“Nossas irmãs diziam que Erna era transparente como água clara, ao passo que eu era um livro de sete selos” (Stein, Vida de uma família judia, 2018, p. 70).
1906
Aos quatorze anos e meio Edith Stein atravessa uma crise pessoal em plena adolescência. Opta por desacreditar de tudo o que não lhe parece seguro e verdadeiro, inclusive Deus. Ao mesmo tempo vive uma incansável busca pela verdade e pela liberdade, procurando-as em primeira pessoa, principalmente em sua vida interior. Decide deixar a escola e conscientemente abandona a religião por não encontrar sentido nela. Vai a Hamburgo, onde passa quase um ano na casa de sua irmã, Else, cuidando dos sobrinhos.
1908
Decide voltar a estudar e reintegra o Liceu Vitória (Viktoriaschule), no ensino médio (Gymnasium), com o intuito de preparar-se para cursar a universidade, o que naquela época poucas mulheres faziam.
Quando se formou, o diretor do Liceu declarou, por ocasião dos resultados e dos prêmios: “Batei na pedra – Stein, em alemão – e tesouros jorrarão”. (STEIN, Vida, 2018, p.217).
1911
Em março de 1911 Edith recebe o título do bacharelado, concluindo o que seria o nosso ensino médio. Faz o exame extraordinário de seleção e, em abril, no mês seguinte, inicia os estudos universitários de germanística, história, propedêutica filosófica e psicologia na universidade da Breslávia, com o desejo de buscar respostas à sua crise existencial.
Faz parte de diversos grupos de caráter reformista, entre eles o Grupo Pedagógico e Associação Universitária Feminina.
Edith Stein interessa-se desde jovem pelo estudo da natureza humana, por isso procura na psicologia de seu tempo uma resposta a seus profundos questionamentos antropológicos. Logo percebe que esta não lhe fornece os elementos necessários para a análise que desejava desenvolver.
1912
Edith tem uma crise intelectual com relação a seus estudos universitários.
Lê as Investigações Lógicas, de Edmund Husserl – por indicação de um amigo – e intui que ali poderia encontrar os fundamentos do que buscava enquanto inquietação antropológica. Decide estudar com Husserl na universidade de Gotinga. Sua mãe aprova e se dispõe a sustentá-la.