sobre Edith Stein

O que Edith Stein tem a nos ensinar na crise do coronavírus?

Em outubro de 2014 defendi, pela UNIFESP, a minha dissertação sobre o conceito de alma em Edith Stein, perscrutando o percurso que ela fez para compreender o mistério da liberdade humana, desde a sua tese sobre a Empatia até a sua última obra sobre João da Cruz, escrita antes de ser levada para morrer em Auschwitz-Birkenau.

Em maio de 2015, na festa de Pentecostes, pedi ao Espírito Santo que me iluminasse com algum tema para continuar as minhas pesquisas sobre essa autora. Logo pensei: o que Edith Stein analisaria se vivesse na nossa época? Tendo concebido uma filosofia do ser 1 capaz de colocar em diálogo o método fenomenológico de Edmund Husserl e a metafísica cristã, juntamente com os seus interesses antropológicos, psicológicos, pedagógicos, históricos, literários, sociológicos, o que ela estudaria como prioridade?

Com o passar dos anos vários temas foram surgindo e fui seguindo com minhas pesquisas, procurando dialogar com professores e especialistas em Edith Stein de várias áreas de atuação. Me ocupei das questões de gênero e da teoria Queer, em diálogo com a professora Angela Ales Bello; do grave problema do aumento do suicídio entre os jovens, abordado pelo Prof. Andrés Aguirre Antúnez, professor do departamento de pós-graduação em Psicologia Clínica da USP e coordenador do Escritório de Saúde Mental da USP; da formação das crianças e jovens, participando dos Seminários Investigativos: a clínica e a escolaridade do Laboratório PROSOPOM, sob a orientação da Profa. Sonia Parente; das questões sobre a mulher, sua formação e sua participação na sociedade civil e na política, junto à Oficina Municipal e, mais recentemente, da relação entre a fenomenologia e o ensino religioso junto à PUC-São Paulo. Paralelamente a isso, segui aprofundando na leitura exegética e análise das obras de Edith Stein, participando de dois grupos de estudos: o Grupo de Trabalho (GT) Edith Stein e o e o Círculo de Gotinga (ANPOF), sob a orientação do Prof. Juvenal Savian Filho, e o Grupo de Estudos de Filosofia Fenomenológica de Edith Stein (GEFFES), junto à Universidade Federal do Ceará, sob orientação da Profa. Ursula Mathias. 2

Agora, em 2020, em poucos meses todas essas questões aparentemente perderam a sua prioridade frente ao que estamos vivenciando, pela primeira vez, como comunidade global: a pandemia ocasionada pelo coronavírus. Temos observado, na medida do possível, o modo como cada povo e cada ser humano está lidando com esse fato. O que Edith Stein diria desse fenômeno? Como pode nos ajudar a entendê-lo e enfrentá-lo com “um olhar sereno”, capaz de “destrinchar algumas linhas claras?” (STEIN, E. 1999, p.74).

Vamos nos reportar à própria Edith, aos seus escritos autobiográficos 3 e suas cartas 4, com o intuito de compreender como ela vivenciou seus próprios tempos de crise, visto que nessa autora o pensamento e a vivência sempre estão conectados. Nesse meu “livro de cabeceira” encontro vários relatos e episódios de sua vida que podem nos ajudar a vivenciar de modo mais sereno o que estamos passando nesse momento de crise global ocasionada pela pandemia do coronavírus.

Por que escolher Edith Stein, se temos vários filósofos contemporâneos que já estão se pronunciando sobre esse tema? 5 Elenco algumas razões: Por ser uma pensadora interessada em analisar de modo rigoroso e objetivo o seu próprio tempo; por ter utilizado o método fenomenológico de Edmund Husserl, olhando para o que é essencial sem pré-conceitos; por ter vivido em um tempo de crises praticamente globais, como foram as duas grandes Guerras Mundiais. Edith Stein passou por tudo isso ponderando e analisando, em primeira pessoa, o que estava vivenciando, trocando ideias com outros pensadores, familiares e amigos, sempre em uma relação de respeito e solidariedade. Logo, encontramos nessa pensadora uma grande riqueza de análise e fineza de olhar que poderá nos conduzir a uma ampliação e aprofundamento de nossas próprias vivências.

Para melhor contextualizar a nossa Autora, apresentamos um trecho de seus escritos autobiográficos em que ela comenta, ao relatar os seus primeiros anos de estudos na Universidade da Breslávia, sua cidade natal, o porquê do seu interesse pela História:

Meu amor pela História não era um modo puramente romântico de mergulhar no passado. Uma participação apaixonada nos acontecimentos políticos do presente, constituintes da história que se escreve agora, estava fortemente associada a esse meu amor; esses dois aspectos provinham certamente da minha consciência extrema da responsabilidade social e do sentimento de solidariedade que nos une não apenas no conjunto da humanidade, mas também às comunidades mais restritas (…) Em razão desse forte sentimento de responsabilidade social, eu me engajei também, resolutamente, em favor do direito de voto das mulheres .

(STEIN, 2018, p. 233-234)

Edith tinha múltiplos interesses, que não só foram mantidos ao longo de sua vida como também aprofundados e conectados com outros, tendo sempre como fio condutor a sua grande preocupação: “o estudo da natureza humana” 6. Do seu engajamento ao voto das mulheres e seu interesse pela psicologia nascente, passa ao estudo mais aprofundado da constituição do ser humano por meio do método fenomenológico de Edmund Husserl.

Nossa Pensadora, agora discípula de Husserl e membro do grupo de fenomenólogos de Gotinga, não só reflete e escreve sobre o seu tempo, como também procura envolver-se de modo prático. Em 1915, quando estava trabalhando na elaboração de sua tese sobre o fenômeno da empatia, não hesita em interromper os seus estudos. A Primeira Guerra Mundial havia começado e Edith, assim como outros tantos membros do grupo de fenomenólogos de Gotinga, se voluntaria para ajudar a defender a sua Pátria.

Ao voltar para casa antes da sua partida, Edith Stein fica surpresa ao constar que ninguém estava tão preocupado com o evento como ela. Chegava a se irritar ao ver as senhoras tomando chá e contando as pequenas histórias de suas vidas do dia a dia. Conta que naquela primeira noite em casa não conseguiu dormir:

Encontrava-me num estado de tensão febril, encarando de frente, com grande lucidez e determinação o que me aguardava. ‘Agora minha vida já não me pertence’ – disse a mim mesma. ‘Tenho de investir todas as minhas forças nisso que está acontecendo. Quando a guerra terminar, se ainda estiver viva, poderei voltar a pensar em meus assuntos pessoais’.

(STEIN, 2018, p. 284)

Apesar da grande resistência de sua mãe e irmãos, Edith se engaja na Cruz Vermelha e parte para trabalhar em um hospital de doenças infecciosas como auxiliar de enfermagem. O que ela descreve ter vivenciado naquele tempo pode servir para que tenhamos um olhar mais compassivo aos profissionais de saúde que estão engajados no combate do coronavírus em todo o mundo, permitindo que saiamos de círculo vicioso de nossa próprias mazelas, impostas pelo isolamento que nos foi pedido, ou até imposto, dependendo do País em que vivemos 7.

Nos impressiona como Edith, ainda tão nova, pois naquela época contava com 23 anos, era tão consciente da necessidade de um engajamento social e político. Sentia-se solidária e aberta ao outro, cultivando um amor à humanidade.

A decisão de sua partida foi a primeira vez em que agiu sem o consentimento de sua mãe. A mãe disse: “Com o meu consentimento você não irá”. Com calma, tenacidade e decisão inabalável Edith responde: “Então devo fazê-lo sem o seu consentimento”. Foi a primeira vez que entravam em desacordo abertamente. As duas se assemelhavam muito: independentes e determinadas, inteligentes, retas, corajosas e generosas. Preparou-se fazendo um curso de enfermagem de um mês em Breslávia. Sua irmã Erna a vacinou contra cólera e tifo, e ela partiu para a Áustria.

Chegou em 7 de abril de 1915 no hospital, onde ficou por 6 meses. Edith se adaptou bem ao hospital, sem poupar as próprias forças. No tempo de descanso também ajudava outras enfermeiras. Estava consciente de estar ali para trabalhar e não para descansar. Tinha uma relação cordial com todos, mas mantinha certa distância por questões de ordem moral. Generosa e impulsionada por um sincero amor ao próximo, era querida especialmente pelos doentes.

A experiência no hospital militar foi extremamente rica e importante para o desenvolvimento de sua investigação sobre a vivência da empatia. A sensibilidade e atenção com a qual se voltava para as pessoas lhe permitiu compreender e estabelecer uma comunicação com os doentes mais comprometidos. Conta como aprendeu a reconhecer o que viviam pelo olhar:

Depois de minha chegada, a enfermeira Loni me conduziu pela sala, mostrando-me todas as instalações e informando-me sobre os doentes. Insistiu para que eu desse atenção ao doente mais grave. Era um jovem comerciante italiano, procedente de Trieste. Chamavam-no só pelo nome, Mario; não me lembro de seu sobrenome. A doença [tifo] atacou-o de forma violenta. Sua boca estava tomada por uma secreção misturada com sangue. A enfermeira Loni pediu-me para limpar sua boca com um pano toda vez que eu passasse por ele. Ele me agradecia com o olhar por esse gesto caridoso. Não conseguia falar nada, pois perdera a voz totalmente. A cada visita médica ele era minuciosamente examinado. Médicos e enfermeiras falavam sobre ele, ao seu lado, como se ele nada compreendesse. Mas eu percebia nos seus olhos grandes e brilhantes que ele estava perfeitamente consciente, prestando atenção a cada palavra dita.

(STEIN, 2018, p. 422)

Depois de duas semanas Edith já era responsável por 60 doentes de tifo e ficou encarregada pelo serviço noturno. Ali teve, pela primeira vez, o contato com a morte. Relata a experiência que teve ao presenciar o falecimento de um doente durante o seu plantão. Tinha que aplicar uma injeção de cânfora de hora em hora e a certo momento não sentiu mais o seu coração pulsar:

Na última noite ainda lhe apliquei algumas injeções. No intervalo entre uma e outra, ouvi sua respiração do lugar onde me encontrava – ele havia cessado bruscamente. Fui para seu leito; o coração não batia mais. Agora deveria fazer o que nos fora prescrito em tal caso. Arrumar os objetos pessoais que estavam com ele e enviá-los ao comandante militar (…) chamar o médico para dar um atestado de óbito, ir com o atestado até a guarda de entrada e pedir aos soldados para levarem o morto numa maca; por último, dar fim a toda a roupa de cama. Enquanto ajuntava os pertences do defunto, caiu do seu caderno de anotações um pequeno bilhete. Nele estava escrito uma pequena oração pedindo para que ele continuasse vivo. Havia sido escrita pela sua mulher. Isso atingiu minha alma profundamente e foi só naquele instante que eu percebi o que a morte daquele homem podia significar no plano humano. Mas eu não podia ficar ali com meus pensamentos. Eu me refiz e fui procurar o médico.

(STEIN, 2018, p. 438)

Depois de três meses Edith foi transferida para a sala de cirurgia. Os médicos se surpreendiam pelo fato dela ter interrompido os estudos para trabalhar na Cruz Vermelha. Ela trabalhava sem parar, o que para ela era natural, pois se encontrava no Front como os seus estimados colegas de Gotinga. Da sala de operação foi transferida depois para o departamento dos feridos leves, onde passou a trabalhar com uma enfermeira difícil de lidar: nervosa e déspota. Nenhuma auxiliar conseguia permanecer com ela por mais de um ou dois dias. Edith compreendeu o encargo delicado que lhe fora confiado e obedeceu, esperando não desiludir a diretora. Deu certo. Depois foi transferida novamente para o departamento de cirurgia com doentes graves. A sua dedicação incondicional, ligada ao vivo sentido de dever, fizeram cair a sua resistência e ela se sentia fraca. Passados seis meses, em setembro ela retorna à casa de sua família na Breslávia.

Nessa crise do coronavírus temos sabido, inclusive pelas redes sociais, o extremo esgotamento que está sendo imposto aos profissionais de saúde, especialmente nos países em que o controle da epidemia não foi feito de modo precoce, com o isolamento da população, gerando um número excessivo de casos que precisam de cuidados extremos, excedendo ao que os sistemas de saúde podem acolher. Assim como acontece em uma guerra, onde há muitos feridos em um curto espaço de tempo, muitos médicos estão precisando escolher entre aqueles que não poderão ser atendidos e morrerão e aqueles que eles atenderão. Muitos relatam que trabalham por horas ininterruptas, sem descanso e sem poder estar com a família, além de viverem continuamente com o medo de contrair o vírus e vir a falecer. A maioria dos governos está pedindo para que a população aceite o isolamento social para evitar essa demanda excessiva de leitos de UTI e respiradores mecânicos, necessários para combater a doença quando esta se encontra em um estado mais avançado. Somos capazes de pensar nessas pessoas e no imenso stress e perigo por que estão passando? Edith vivenciou esse trabalho e conseguiu suportar apenas seis meses, com dedicação e profissionalismo. Quantos profissionais da área da saúde devem estar passando por essa mesma experiência!

Voltando ao nosso relato, Edith Stein retorna à casa e termina a redação de sua tese sobre a empatia. Percebe-se que a escolha por esse tema reflete a sua preocupação pela dimensão social e pela solidariedade, tornada prática no seu alistamento na Cruz Vermelha. Em 1916 Edith defende a sua tese sobre o fenômeno da empatia sob a direção de Husserl e é convidada a ser a sua assistente em Friburgo, para onde ele tinha se transferido, permanecendo nesse cargo até fevereiro de 1918.

Em janeiro de 1918 ela assiste o funeral do Prof. Adolf Reinach, que havia se tornado um grande amigo. Reinach era “o braço direito de Husserl” (STEIN, 2018, p. 313-314) e foi o fenomenólogo que a recebeu quando ela chegou em Gotinga para assistir os seminários de Husserl. Foi também quem a ajudou, nas férias de Natal de 1914-1915, a sair de uma grave crise de depressão, inclusive com ideações suicidas. Nesse período ela já havia estudado muito e estava iniciando a redação de sua tese doutoral (STEIN, 2018, p. 357-366). Nesse relato Edith mostra como a ajuda de uma pessoa pode ser decisiva em momentos de crise:

Nessas duas visitas à casa de Reinach, tinha a impressão de ter vivido um novo nascimento. Todo o tédio de viver tinha desaparecido. Aquele que me salvou do sofrimento me pareceu como um bom anjo. Tinha a impressão de que, por uma fórmula mágica, ele havia transformado num conjunto claro e bem arrumado a enorme bagunça que a minha cabeça tinha produzido. Não duvidava da segurança de sua opinião. Tranquilizada, pus de lado a minha dissertação a fim de concentrar todos os esforços na preparação do exame oral.

(STEIN, 2018, p. 366)

Edith havia superado, com a ajuda do professor e amigo, aquela primeira grande crise. Ela tinha passado no exame oral e até encontrado forças para servir a sua pátria como voluntária durante a Guerra. Retornando à casa, apesar de esgotada, tinha reunido forças e defendido a sua tese. Era uma mulher forte, especialmente por que tinha como modelo a sua mãe, que havia decidido administrar os negócios do marido, falecido por causa de uma insolação quando Edith tinha apenas 3 anos. A sra. Auguste, com seus sete filhos, havia assumido e feito prosperar a loja e o comércio de madeiras do esposo, “enfrentando a situação sozinha, sem aceitar ajuda de ninguém” (STEIN, 2018, p. 43).

Apesar de sua grande força interior e o exemplo de sua mãe, Edith não pode deixar de sentir e sofrer por causa da Guerra. Assim como todo o povo alemão, sentia-se deprimida pela perda de tantas pessoas, pela a derrota da Alemanha e pela imposição de duras sanções por parte dos países vencedores 8. Ela procura vencer o seu abatimento engajando-se, tanto intelectualmente quanto praticamente, pela reconstrução do seu País.

E nós? O que pretendemos fazer pelo nosso País e pelo nosso povo, durante e depois da pandemia do coronavírus? Estamos pensando sobre isso, ou vivemos centrados naquilo que estamos perdendo por causa da quarentena? Nos preocupamos com o bem-estar dos que estão próximos e possuem menos condições do que nós para enfrentar essa crise? Lembramos de ligar para essas pessoas e motivá-las a seguir em frente? E com aquelas que eventualmente nos prestam algum tipo de serviço, nos preocupamos em saber como estão lidando com essa crise e se possuem o suficiente para sobreviver durante o período de isolamento?

Em fevereiro de 1918 Edith escreve a seu amigo, o fenomenólogo polonês, Roman Ingarden, contando a sua decisão de deixar de ser assistente de Husserl para ocupar-se de suas próprias investigações. Ela explicita a sua preocupação com os acontecimentos atuais de seu momento histórico, que a conduzem a refletir sobre “a responsabilidade dos atos e o papel que julgamos ser o dos seres humanos na história do mundo” 9. Em uma outra carta a esse mesmo amigo, em dezembro de 1918, rebatendo a crítica de que estaria, assim como Husserl, excessivamente envolvida com questões filosóficas de tipo abstrato, beirando ao idealismo, ela declara o seu “amor pela realidade”, explicitando que esse amor não era pela realidade em geral, e sim por uma “realidade bem muito determinada: a alma humana, a do indivíduo e a dos povos” 10.

Seu amor pela realidade concreta manifesta-se em sua decisão a ingressar, em 12 de novembro de 1918, no Partido democrático Alemão, visando auxiliar na reconstrução política de seu País. Entre dezembro de 1918 e janeiro de 1919, Edith viaja diversas vezes a Berlim como membro de seu partido, redigindo panfletos e engajando-se especialmente pelos direitos políticos das mulheres. Mas Edith Stein, a jovem doutora, permanece pouco tempo na política. Já no final de dezembro de 1918 escreve a Ingarden que estava “tão farta da política” a ponto de sentir-se “enojada” 11. Mas ela não culpa diretamente a política, pois reconhece a sua necessidade, apenas escreve que lhe falta o “instrumental habitual para isso: uma consciência robusta e uma pele espessa” 12.

Edith Stein decide retomar as suas pesquisas com o intuito de contribuir para o bem da sociedade e da humanidade por meio de sua atuação como filósofa. Deseja ser professora universitária e influenciar positivamente na formação dos jovens. Escreve, entre 1918 e 1920, dois longos ensaios: (1) Causalidade psíquica, onde aprofunda o estudo do interior do ser humano (dimensão psíquica e dimensão espiritual), identificando por meio de uma análise fenomenológica um certo tipo de causalidade no âmbito real da psique, contraposta às leis da motivação que atuam na dimensão espiritual (sentimento, intelecto e vontade), onde se encontra a liberdade humana 13; (2) Indivíduo e comunidade, onde ela aprofunda-se na constituição da pessoa, tanto individualmente quanto intersubjetivamente, intuindo que ambas as dimensões são igualmente importantes ao seu pleno desenvolvimento. Nesse texto, “a partir da análise da comunidade, Stein examina em termos novos a diferença entre atos livres e o impulso. A consideração dos atos abre caminho para a análise da relação com os outros, a ajuda dos outros e aos outros, especialmente em formas comunitárias” (ALES BELLO, 2015, p. 22-23). Com esse segundo ensaio Stein fundamenta a ausência de determinismos no campo social e apresenta de que modo as forças comunitárias são capazes de sustentar a pessoa em situações de dificuldade, e vice-versa.

Somos conscientes de que a nossa ação e os nossos comentários, especialmente os que compartilhamos pelas redes sociais, possuem uma influência sobre a nossa comunidade? Agimos de modo responsável ou gostamos de “colocar lenha na fogueira” e alimentar discussões inoportunas e estéreis, que não ajudam a construir um clima mais ameno para que possamos passar por essa crise de modo menos doloroso?

Em 1920 as dificuldades por que passa Edith Stein se tornaram cada vez mais agudas, quer seja pela sua condição de mulher, ou pela sua origem judaica. Não consegue aceder a uma cátedra universitária, apesar da recomendação de Husserl e de ter sido aprovada nos exames de seleção 14. A desculpa a ela dada foi a grande crise econômica que a Alemanha se encontrava no pós-guerra. Edith não esmoreceu e seguiu em frente. Com criatividade, começou a dar aulas de introdução à fenomenologia em sua casa materna, chegando a ter mais de 30 alunos.

Mantém contato com seus colegas e continua com uma intensa correspondência com os membros do Círculo de Gotinga– com o casal Conrad-Martius, Jean Hering, Alexandre Koyré, Roman Ingarden, Fritz Kaufmann, entre outros – e com o próprio Edmund Husserl. Edith Stein é muito zelosa com suas amizades. Se vivesse hoje, certamente usaria as mídias sociais para enviar e receber notícias, trocar ideias, pedir e oferecer ajuda aos seus amigos.

Nós fazemos isso? Usamos as redes sociais de modo construtivo ou apenas disseminamos, às vezes até de modo virulento e sem checarmos as fontes, material que recebemos dos vários grupos em que participamos? Agora, que estamos vivemos esse isolamento social, precisamos ser ainda mais críticos e responsáveis pelo que divulgamos pela internet.

Edith segue em sua busca interior e exterior e acaba encontrando-se com Deus, mas esse encontro permanece em segredo. Em junho de 1921 a sua vida toma um novo rumo com a leitura do Livro da Vida de Santa Teresa d’Ávila. Edith decide ser batizada na Igreja católica, apesar de seu mestre e muitos amigos fenomenólogos serem protestantes, e apesar dos protestos de sua mãe, uma judia fervorosa. A partir desse momento Edith decide caminhar com as próprias pernas, sem a ajuda financeira de sua mãe, e aceita um emprego de professora de literatura e alemão nas Irmãs dominicanas de Santa Madalena, em Espira. Seu sonho de lecionar filosofia na universidade não se realiza como ela havia desejado, mas ela aproveita a oportunidade que lhe aparece e tira dela o melhor proveito possível.

Em Espira, morando junto com as alunas e com as religiosas, Edith se dedica à formação das jovens e aproveita todo o tempo livre que tinha para conhecer mais profundamente os pensadores cristãos, especialmente aqueles que se dedicaram a estudar a pessoa humana, como Santo Agostinho. Conhece o padre jesuíta Erich Przywara, editor da obra do Cardeal Newman, que a exorta a não abandonar os estudos de filosofia e a ocupar-se de um estudo sistemático da obra de São Tomás de Aquino.

Eis aqui mais um exemplo para nós: abrir-se ao transcendente nos ajuda a olhar o que estamos passando de outro modo, muito mais relativo: o fardo torna-se mais leve.

Edith dá esse passo na fé e não permanece na dimensão de um sentimento intimista, mas procura estudar e conhecer essa nova visão de mundo que se abre frente a ela. Também procura ajuda, conselhos, orientação. Não faz um percurso completamente egocêntrico, apesar de ser uma pessoa de temperamento muito reservado. Procura equilibrar o seu crescimento interior com o pertencimento a uma comunidade, que agora ela vislumbra como sendo a da Igreja católica. Traduz esse sentimento de pertença em ações práticas: busca contribuir com essa comunidade por meio da tradução para o alemão de textos de autores católicos. Em 1925 traduz para o alemão os sermões, as cartas e A ideia da universidade de John Henry Newman, filósofo anglicano convertido ao catolicismo.

Traduzir me proporciona uma verdadeira alegria. Além do mais, para mim é maravilhoso sentir-me próxima de um espírito como Newman (…). Sua vida inteira consistiu somente em uma busca da verdade religiosa, e o conduziu inevitavelmente à Igreja católica.

(Carta a Roman Ingarden, 19 de junho de 1924)

Edith sempre foi amiga dos livros, desde a sua infância. Ela se sentia “próxima” dos autores, aprendendo com eles. Quem sabe esse tempo de isolamento ou quarentena não seja uma ótima oportunidade para nos aproximarmos de bons livres, escritos por bons autores.

Na semana santa de 1928 Edith vai para a Abadia beneditina de Beuron, onde trabalha na tradução do latim para o alemão do Quaestiones disputate de veritate de Santo Tomás de Aquino. Pelo seu engajamento, ela vai se tornando conhecida e começa a ser chamada para dar conferências, especialmente sobre a mulher: suas especificidades e reciprocidades com relação ao homem, seu ethos específico, sua formação. Em 23 de março de 1931 Edith deixa de lecionar em Espira, depois de 9 anos, para ter mais tempo para suas pesquisas. Continua a fazer diversas conferências sobre a vida cristã, a pedagogia e a questão da mulher: na Alemanha e em outros países de língua alemã (Suíça, Áustria…).

Em 1931 é publicada a sua tradução do latim para o alemão do primeiro volume das Questiones Disputatae de Veritatae de Santo Tomás de Aquino. Edith Stein escreve ao professor Heinrich Finke, dizendo que irá escrever um novo trabalho, pois sentia que já era hora de tentar mais uma vez ascender a uma cátedra de filosofia na Universidade. Ela tinha se encontrado com o filosofo e professor Finke em 1929 e ele lhe havia dito para “não enterrar o seu talento” (Carta a H. Finke, de 3/1/1931).

Finke aconselha Edith Stein a tentar uma cátedra em Friburgo, onde ensinam Husserl, Heidegger e Honecker. Depois da páscoa ela vai para a sua casa na Breslávia e se põe a redigir Potência e Ato para apresentar à banca examinadora da Universidade de Friburgo. Nesse texto ela pretende “confrontar a escolástica com a filosofia moderna” (Carta a H. Finke, de 3/1/1931), em vistas a elaborar uma filosofia do ser. Presta exame em Friburgo, mas é recusada apesar de ter sido considerada apta para o posto. A desculpa dada é a grande crise econômica pela qual passava a Alemanha. Apesar de não conseguir o posto na Universidade, configura-se uma nova etapa de pensamento da fenomenóloga Edith Stein que atingirá a usa maturidade em sua grande obra Ser finito e ser eterno.

Sempre perseguindo o seu antigo sonho, Stein segue discernindo o seu tempo, procurando ver se já havia chegado a hora de realizá-lo. Não se frustra, nem se deprime enquanto isso não é possível, mas também não o abandona, até ter certeza de que esse não era o seu caminho.

Recebe a proposta para lecionar psicologia no futuro Instituto de Pedagogia de Spandau, mas a sua fundação é postergada por causa da crise econômica. Por fim, em março de 1932 Edith Stein é contratada como professora de antropologia e pedagogia no Instituto Alemão de Pedagogia Científica em Münster. Durante o semestre de inverno de 1932-1933 ela dá um curso de antropologia filosófica onde apresenta, por meio do método fenomenológico, a concepção da natureza humana da metafísica cristã. As lições sobre a constituição da pessoa humana, redigidas para a preparação das aulas, foram publicadas postumamente. Nelas Edith Stein aprofunda a ideia de um exterior e um interior da alma, provavelmente influenciada pela leitura dos místicos cristãos. Percebe que quanto mais o ser humano desenvolve a sua personalidade, mais penetra e vive no seu interior, podendo se encontrar com Deus e viver de modo mais pleno a sua liberdade. No entanto, essa vida no íntimo da alma, sobre a qual Edith Stein vai dedicar boa parte de seus estudos, não implica em um afastamento dos outros ou do mundo. Pelo contrário: quanto mais o indivíduo penetra em seu interior, tanto mais se percebe “como pessoa espiritual, em sua posição social e em sua individualidade [singularidade], como ser histórico, comunitário, cultural” (STEIN, 2010, p. 30. ESGA 14, Parte II, Capítulo III, §2.). Ser no mundo e estar com Deus são como que duas faces da mesma natureza, a da pessoa humana.

Nas suas lições de 1932-1933, assim como em suas obras posteriores, Edith Stein procurará fundamentar essa constatação, tanto histórico-pessoal quanto fenomenológica, do ser humano como um ser a procura de Deus:

Tanto em seu mundo interior quanto no exterior, o ser humano encontra indícios de algo que está acima dele e de tudo o que existe, e do qual ele e tudo o que existe dependem. A pergunta sobre esse Ser, a busca de Deus, pertence ao ser do homem.

(STEIN, 2010, p. 32. ESGA 14, Parte II, Capítulo III, §4.)

Essa abertura para o interior que se encontra em todo e qualquer ser humano “aponta para a existência do núcleo individual, para o seu centro” (STEIN, 2010, p. 32. ESGA 14, Parte II, Capítulo III, §3.). É só nesse centro que ele consegue escolher ou rejeitar livremente valores que lhe vêm do mundo e, deste modo, é capaz de escolher ou rejeitar agir livremente. Esse local por excelência da liberdade revela a pessoa como, naturalmente, um “ser a procura de Deus” [Gottsucher] (Idem, ib. §4).

No início de 1933 Hitler sobe ao poder e institui o Terceiro Reich. Atenta aos sinais do tempo Edith percebe com clareza qual era a sua situação como judia e professora do Instituto de Pedagogia Científica de Münster, pedindo para deixar o Instituto. Escreve a seu sobrinho que foi decisão dela ir embora para não prejudicar o Instituto católico (STEIN, 2018, p. 541, n. 16). Edith previu que os católicos seriam os próximos a serem perseguidos por Hitler. O diretor do instituto ficou perplexo ao ver a clareza com que Edith Stein percebia a situação política da Alemanha, pois ela era uma pessoa muito discreta e vivia uma vida retirada, aparentemente sem se envolver com as coisas do mundo (STEIN, 2018, p. 542).

Edith já havia preparado para o semestre seguinte o curso de “antropologia da doutrina católica da fé”, que nunca será ministrado. Ao ter certeza das perseguições e das condições que estavam sendo importas aos judeus, ela busca primeiro saber a vontade de Deus para a sua vida. Ela não alimenta o sentimento de frustração e decide ir em frente, discernindo se essa não seria a oportunidade que ela esperava, desde a sua conversão, para entrar no Carmelo, tornando-se religiosa. Depois de um tempo de escuta de Deus, discernimento interior e atenção aos fatos que iam acontecendo, inclusive sofrendo várias recusas e adversidades durante esse período, Edith Stein é aceita como noviça e entra ao Carmelo de Colônia, com 42 anos de idade.

Que grande exemplo para todos nós! Quantas vezes Edith posterga seus planos e sonhos, adapta-os e sente-se feliz com o que consegue realizar. E, por fim, não tem medo de reconhecer que o tempo lhe apresenta outras oportunidades, que ela precisa largar tudo o que tinha para ser capaz de aproveitá-las. E se dá por inteiro.

Ao entrar no Carmelo aceita abandonar, não apenas sua família e amigos, mas também a sua carreira filosófica. Em 15 de abril de 1934 Edith Stein recebe o hábito como Teresa Benedita da Cruz. Sem que tenha requisitado, o Provincial da Alemanha, Pe. Teodoro Rauch, lhe concede a permissão para que continue sua atividade científica no convento. Ela o faz de bom grado, mas sem prejudicar as horas de oração e atividades comunitárias.

Nos quase 10 anos que vive como carmelita, Edith produz sua maior obra filosófica: Ser finito e eterno, além de outras tantas obras de cunho religioso e teológico, culminando com a sua inacabada Ciência da Cruz. Em 1939, já tendo sido enviada ao Carmelo de Echt, na Holanda, por causa da perseguição aos judeus, Edith pede à Madre superiora permissão para reescrever o seu “testamento” e oferece, livremente, a sua própria vida pela salvação de seus dois povos: pelo povo judeu, “a fim de que o Senhor seja recebido pelos seus, para que o seu Reino venha”, e pela “salvação da Alemanha e paz do mundo”. Enfim, oferece-se pelos seus familiares, “tanto os vivos como os falecidos”, e por todos que Deus lhe deu, “para que nenhum deles se perca” (STEIN, 2018, p. 579).

No dia 24 de julho de 1942, as igrejas católicas da Holanda leem uma carta pastoral dos bispos condenando a deportação dos judeus. Logo depois, no dia 2 de agosto, Edith e sua irmã Rosa são capturadas no Carmelo pela SS e enviadas a Amesfort. Em 4 de agosto elas são levadas para o campo de Westerbork (Holanda) e no dia 7 do mesmo mês são deportadas para o campo de Auschwitz-Birkenau. Chegam em 9 de agosto e no mesmo dia são assassinadas junto com outros judeus nas câmaras de gás.

Algumas pessoas que se encontravam prisioneiras e conseguiram sair com vida desses campos por onde Edith passou, comentam a serenidade com que aquela religiosa vivia o terror que se espalhava por todos. A sua vida não estava sendo tirada, mas havia sido oferecida, por um objetivo maior, que dava sentido a tudo o que ela estava passando. Já que não podia reescrever o curso da história, Edith o ressignificava, com liberdade e responsabilidade.

Poderíamos enumerar mais uma série de fatos e relatos de Edith Stein que podem nos ajudam a ressignificar a crise que estamos vivendo e a vê-la como oportunidade para crescermos como indivíduo e como comunidade. Pela primeira vez vivenciamos, especialmente aqui no Brasil, onde nunca tivemos uma guerra, uma crise global. Percebemos, por causa da disseminação do coronavírus em todo o globo terrestre e em um curto espaço de tempo, que estamos interconectados. Sentimos, também, o quanto somos responsáveis pelo mal que estamos causando em nosso planeta no descaso que temos com a natureza. A crise está aí. Não podemos fazer nada para mudá-la. Mas ela pode ser vista e vivenciada por cada um de nós como “bênção” ou como “maldição”. Cabe a cada um escolher, individualmente, como passar por ela e, comunitariamente, como ajudar nossos irmãos mais necessitados a fazer o mesmo.

Deixamos, por fim, uma reflexão enviada pela Professora Angela Ales Bello no sábado, dia 28 de março:

Desejo compartilhar com vocês algumas reflexões que provavelmente vocês também fizeram:

  • Ficar em casa: devemos nos considerar privilegiados por termos uma casa. Há muito que não têm. Onde está o nosso mérito? É Deus quem nos ajuda, portanto, devemos ajudar os outros!
  • Por que não transformamos a reclusão em clausura? Temos o privilégio de poder fazer a experiência da clausura que fez Edith Stein. Essa é uma graça do Senhor, que podemos estender também aos outros. A (clausura) de Edith era voluntária, a nossa foi ocasionada pelo destino; mas talvez nos tenha sido preparada pela Providência. Transformemos as nossas casas em convento, criando uma verdadeira comunidade. Conclusão: somos privilegiados e não desgraçados. 15

REFERÊNCIAS:

STEIN, Edith. A Mulher: sua missão segundo a natureza e a graça. Trad. Alfred J. Keller. Bauru, SP: EDUSC, 1999.
______ . Vida de uma família judia e outros escritos autobiográficos. Trad. Maria do Carmo V. Wollny e Renato Kirchner. Rev. Tec. Juvenal Savian Filho. São Paulo: Paulus, 2018.
______ . Selbstbildnis in Briefen III: Briefe an Roman Ingarden. ESGA 4. Freiburg–Basel–Wien: Herder, 2005.
______ . Der Aufbau der menschlichen Person. Vorlesung zur philosophischen Antropologie. ESGA 14. Freiburg–Basel–Wien: Herder, 2010.
ALES BELLO, Angela. Pessoa e comunidade – Comentários: Psicologia e Ciências do Espírito de Edith Stein. Tradução Miguel Mahfoud, Ir. Jacinta Turolo Garcia. Belo Horizonte: Ed. Artesã, 2015.
PARISE, Maria Cecilia I. As colorações da alma na análise da pessoa humana segundo Edith Stein. Dissertação de mestrado sob a orientação do Prof. Dr. Juvenal Savian Filho, defendida na UNIFESP em setembro de 2014, p. 23 – 27. Disponível em: http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/39261

Autor

  • Maria Cecília Isatto Parise

    Maria Cecilia Isatto Parise possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestrado em História da Filosofia pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne e mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo na linha de pesquisa "Metafísica, Ciência e Linguagem". É professora palestrante e membro do Conselho consultivo da Oficina Municipal - Escola de Cidadania e Gestão Pública de SP. Professora convidada pelo departamento de pós-graduação em Teologia da PUCSP, onde ministra disciplinas no curso de extensão em teologia e ensino religioso. É cofundadora e cogestora do site edithstein.com.br. – Estudos Integradores da Pessoa Humana. Fundadora e diretora da Chouette Cursos e Educação. Membro do Centro Italiano di Ricerche Fenomenologiche de Roma.
    Membro, no Brasil, dos Grupos de Pesquisa: GT Edith Stein e o Círculo de Gotinga. O pensamento de Edith Stein da Universidade federal de São Paulo; Grupo de Estudos de Filosofia Fenomenológica de Edith Stein, da Universidade Federal do Ceará. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em ética e idealismo alemão - especialmente em Georg Friedrich Hegel, e no pensamento contemporâneo - especialmente na fenomenologia de Edmund Husserl e Edith Stein. Atua principalmente nas seguintes áreas: fenomenologia, antropologia filosófica, fé e razão. Investiga os temas: liberdade, subjetividade e intersubjetividade, relação da pessoa humana com Deus, identidade e gênero. É coautora do livro Masculino e Feminino na Fenomenologia de Edith Stein publicado em 2020, além da participação na produção de outros livros e da publicação de artigos acadêmicos na área da Filosofia. Atua também como tradutora para o português de textos e conferências dos fenomenólogos: Profa. Dra. Angela Ales Bello e o Prof. Dr. Éric de Rus.

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Notas

  1. A “metafísica do ser” é apresentada na sua forma mais completa na grande obra de Edith Stein: Ser finito e eterno, que está sendo traduzida para ser publicada na coleção das obras completas de Edith Stein, editada pela Paulus.
  2. Esses grupos estão listados aqui no site e podem ser contatados caso haja interesse de participar em suas atividades.
  3. Os escritos autobiográficos de Edith Stein foram traduzidos, na sua versão crítica, para o português e estão publicados pela ed. PAULUS.
  4. Serão utilizadas as referências das cartas publicadas pela Edith Stein Gesamtausgabe (ESGA), especialmente o volume 4, onde se encontram as cartas que ela escreveu ao seu amigo, o fenomenólogo polonês, Roman Ingarden.
  5. Mesmo não estando totalmente de acordo com suas posições, pode-se citar três artigos de pensadores (uma jornalista e dois filósofos) que apresentaram vários argumentos sobre o modo como estamos vivendo a pandemia do coronavírus no Brasil: Eliane Brum, O vírus somos nós ou uma parte de nós (https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-03-25/o-virus-somos-nos-ou-uma-parte-de-nos.htm); e no mundo: Byung-Chul-Han, O coronavírus de hoje e o mundo do amanhã (https://brasil.elpais.com/ideas/2020-03-22/o-coronavirus-de-hoje-e-o-mundo-de-amanha-segundo-o-filosofo-byung-chul-han.html) e Yuval Noha Harari, em entrevista onde aponta os cenários pós-pandemia (https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/28/guru-dos-nossos-tempos-yuval-harari-aponta-os-cenarios-pos-pandemia.htm) e apresentação de um de seus artigos, publicados no Financial Times, Como será o mundo depois do coronavírus (http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597364-como-sera-o-mundo-depois-do-coronavirus-segundo-yuval-noah-harari).
  6. Maria Cecilia I. As colorações da alma na análise da pessoa humana segundo Edith Stein. Dissertação de mestrado sob a orientação do Prof. Dr. Juvenal Savian Filho, defendida na UNIFESP em setembro de 2014, p. 23 – 27. Disponível em: http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/39261
  7. Tomo a liberdade de citar aqui algumas passagens tão bem selecionadas pela Profa. Suzana Filizola Brasilense Carneiro, psicóloga, com tese de doutorado em Edith Stein. Participamos juntas de uma mesa-redonda na PUC-SP, com a presença de Magna Celi Mendes da Rocha, doutora e mestre em educação, também estudiosa de Edith Stein. O tema desse encontro, realizado em 9 de agosto de 2018, festa de Santa Teresa Benedita da Cruz, Edith Stein, foi: O dinamismo entre fé e razão na vida e obra de Edith Stein. 
  8. Vide o texto de Hanna-Bárbara GERL-FALKOVITZ, A cultura alemã nas décadas de 1919-1930: o contexto de Edith Stein. In. O pensamento de Edith Stein – escritos críticos. Faculdade Dehoniana. TQ Teologia em Questão. Taubaté – SP: 2016.
  9. STEIN, E. Cartas a Roman Ingarden, p. 72 [Carta 28, de 19/02/1918].   Apud. PARISE, MCI. As colorações da Alma, p.33.
  10. STEIN, E.  Cartas a Roman Ingarden, p. 118 [Carta 62, de 10/12/1918]. Apud. PARISE, MCI. As colorações da Alma, p.34.
  11. “Die Politik habe ich satt bis zum Ekel“.  STEIN, E. Cartas a Roman Ingarden. ESGA 4, 2005, p. 119 [Carta 63, de 27/12/1918].
  12. STEIN, E. Cartas a Roman Ingarden. ESGA 4, 2005, p. 119 [Carta 63, de 27/12/1918].
  13. Para Edith Stein, assim como também para Edmund Husserl, o ser humano é pessoa por ser livre e espiritual. Husserl se contrapõe ao modo como a psicologia empírica considerava a natureza humana. Ele sustenta que existe uma diferença essencial entre a estrutura geral dos seres vivos e a dos seres humanos: além da dimensão psíquica, comum aos animais, os seres humanos possuem uma dimensão espiritual, motivo pelo qual podemos chamá-los de “pessoas”. Pessoa para Husserl é o sujeito de atos racionais que atua como um “eu livre”, um “eu espiritual”. Stein aprofunda o personalismo husserliano analisando, exaustivamente a capacidade de sentir sentimentos, o pensar e agir humanos. Ela identifica que neles não ocorre uma causalidade de tipo material ou social, mas são regidos pelas motivações que chegam do exterior ou do interior e são acolhidas ou rejeitadas por cada um, de acordo com os seus valores pessoais. Desse modo, Edith segue seu mestre, se contrapondo às concepções deterministas, que elegem a materialidade biológica e/ou genética, ou a influência do meio, para justificar as ações dos indivíduos e dos povos.
  14. Os dois textos Causalidade psíquica e Indivíduo e comunidade, foram escritos entre 1918-1920 como tese de livre-docência para tentar ingressar na Universidade.
    Não foram aceitos por terem sido escritos por uma mulher, pois naquele período elas eram impedidas por lei de ocupar cargos docentes universitários. No entanto, foram publicados conjuntamente em 1922 no Jahrbuch für Philosophie und phänomenologische Forschung, sob o título de Contribuições à fundamentação filosófica da psicologia e das ciências do espírito (Beiträge zur philosophischen Begründung der Psychologie und der Geisteswissenschaften. ESGA 6. Friburg–Basen–Wien: Herder, 2010).
  15. Mensagem enviada pelo WhatsApp. Deixamos aqui a mensagem em sua forma original: Desidero condividere alcune riflessioni che  probabilmente anche voi avare fatto: 1. restare in casa, dobbiamo ritenerci fortunati di avere una casa, ci sono molti che non hanno un tetto, quale merito abbiamo?  è Dio che ci aiuta perciò dobbiamo aiutare gli altri! 2. perché non trasformiamo la reclusione in clausura?  siamo fortunati possiamo fare l’esperienza della clausura che ha fatto Edith Stein, questa è una grazia del Signore, facciamolo capire anche agli altri, quella di Edith era volontaria, questa ci è toccata in sorte, ma forse è stata preparata per noi dalla Provvidenza, trasformiamo le nostre casa in conventi realizzando un comunità vera. Conclusione: siamo fortunati non disgraziati!