sobre Edith Stein

A marcante presença de Edith Stein nos trabalhos científicos

O processo de formação acadêmica exige uma construção intelectiva aberta, ética, empática e emocional, diante dos conteúdos do conhecimento transmitido, adquirido e ressignificado à luz do ato reflexivo.

A gênese de um problema na perspectiva educativa mobiliza a(o) pesquisadora(o) a desbravar caminhos que, sem perder a relevância do seu ato investigativo, impõem a necessidade de delimitações temáticas claras coerentes, coparticipativas e instigantes, tonalizando, assim, a continuidade de frutos científicos que favoreçam o ser pessoa em seu processo de individuação (tornar-se si mesmo), ou seja, a atingir a gênesis do seu processo de conhecimento e autoconhecimento.

Mediante aos aportes que norteiam a vida intelectiva/objetiva e intersubjetiva que instigam ou não o cultivo da produção acadêmica na área da filosofia, teologia, pedagogia, da incipiente história da psicologia científica, dentre outras áreas, torna-se importante o reconhecimento de suas bases interdisciplinares, de estruturas normativas e da complexidade relacional do objeto em estudo: o humano.

Caminho de uma construção dialética — mundo interno ↔ mundo externo — que o arrebata para centros mais profundos, como já demonstrado na história da humanidade, principalmente na vida daqueles que chegaram a viver da máxima interioridade denominada vida mística’’. (Ferreira, 2024, p. 21).

Devido à abrangência dos conteúdos que abordam concepções humanas que foram transmitidas durante todo o itinerário acadêmico formativo, a(o) aluna(o), ao ter que eleger um tema e/ou aprofundamento para conclusão de um trabalho final, vai se deparar com a complexidade do seu objeto: O humano psicofísico espiritual. Como ele se doa à consciência? Como lidar com aspectos metafísicos e objetivos presentes na natureza/estrutura do humano? Como delimitar um trabalho acadêmico que busca integrar dimensões tríades (corpo, psique/mente, espírito e fenômenos espirituais e místicos?). Através de um trabalho de produção científica, como favorecer novos leitores a escavarem trilhas benéficas para o desenvolvimento da saúde integral? Questionamentos que atravessam também os pesquisadores de pós-graduações lato sensu e stricto sensu.

Para amplificação dos conteúdos supracitados, a definição de humano continua sendo a grande questão que inquietamente leva os pesquisadores a trabalharem com diversas hipóteses, a fazerem levantamentos bibliográficos que aprimoram a finalidade das leituras temáticas, a usarem uma linguagem acadêmica apropriada, tornando, assim, a natureza do trabalho metodológico e textual adequadamente aceita nos moldes científicos.

Neste itinerário de buscas intelectivas, constata-se certa sincronicidade nas vivências daqueles que optam por aprofundar os seus projetos de pesquisa escavando o pensamento da fenomenóloga husserliana e monja do Carmelo descalço Edith Stein-Teresa Benedita da Cruz. Através deste contato, a maioria acaba reconhecendo que nesta diástole e sístole, as cordas existências apontam não só para um caminho de identificação contextual, mas para um sentido que mobiliza sua responsável participação na construção de um mundo circundante unificado.

Deste modo, delimitar tema, caminho/método, objetivo geral e específico e justificativa a partir do sentido encontrado não só facilita a execução do projeto de pesquisa, mas aponta caminhos analíticos conclusivos para resolução do estudo de arte, do problema levantado e das resoluções encontradas. Seja a natureza do trabalho acadêmico, qualitativo ou quantitativo, empírico, analítico, metafísico e/ou aos moldes da fenomenologia steiniana que lida com a maneira como os fenômenos se apresentam à consciência, a pergunta-problema vai encontrar na integrada investigação conceitual/bibliográfica e/ou prática e conclusiva ferramentas para uma produção que aprovada no âmbito científico contribui para construção do humano integral.

Para este êxito, a formulação mais ampla do assunto exige coerência assertiva no levantamento dos conceitos/termos, discussões reflexivas/pedagógicas, distribuição do tempo/cronograma, condições materiais/bibliográficos, mas também psíquicas/motivacionais e emocionais. Fatores que se somam na descoberta dos elementos que movem cada irrepetível núcleo pessoal.

Segundo nossa estimada Edith Stein – Santa Teresa Benedita da Cruz, o humano desperto para o seu núcleo identitário encontra em si, no seu processo de individuação, o néctar criativo que unifica sua tríade: corpo, psique/alma e espírito. Só assim o ser integral ressurge de si mesmo, de sua interioridade, demonstrando que é da sua força vital que os atos relacionais recriam vínculos verdadeiramente saudáveis.

Essas interações podem se formar tanto no espaço acadêmico como nos atos formativos das vivências relacionais. Principalmente quando ocorre a epoché (εποχη) — suspensão da atitude natural/do juízo, para que o ato empático acolha o que se apresenta na diversidade da subjetividade transcendental, nas teias relacionais: eu-tu-nós (microcosmos), o macrocosmo e o criativo Princípio Transcendente que nos coloca em interatividade.

Seja qual for a natureza do processo de produção intelectual exigida, só uma gestão de conhecimentos e de autoconhecimento pode tornar o marco teórico inicial um processo frutífero, no qual a intuição inicial ganha corpo textual metodológico, conceitual e vivencial. Portanto, delimitar não é restringir, mas sim intuir, explanar, interpretar, descrever, e quando possível encontrar caminhos para, assim, prestar um favor na transmissão do conhecimento, de novos conhecimentos e de relações verdadeiramente empáticas.

Dessa forma, neste fluxo de conteúdos de expressões da força vital emanada a partir do encontro com os escritos steinianos, continuamente encontramos produções que merecem destaque, ao escolherem contribuir com esta ‘ciência de um novo começo’. Portanto, nossa intencionalidade é a de continuar divulgando, através dos nossos meios de comunicação, propostas de reflexões, a partir de conteúdos e cursos. Tais resultados de pesquisas, amparadas pelos escritos — antropológicos, pedagógicos, psicológicos, políticos, espirituais e místicos — produzem caminhos de continuidade intelectiva.

No entanto, também esperamos que a diversidade deste caráter interdisciplinar contribua para o reconhecimento e o despertar de que, quando o humano experiencia estados de máxima interioridade, frutos que decorrem de vivências unitivas desvelam não só frutíferas interações investigativas. Segundo o escrito mais maduro de Edith Stein – Santa Teresa Benedita da Cruz (Ser finito e Ser eterno), é na alma que o Arquétipo da Criação, por gratuidade, torna-se amorosamente real, ou seja, na alma da alma Ele se doa e no humano faz morada.

Referência

Ferreira, Soraya Cristina Dias. O humano a caminho de um centro mais profundo: leituras da alma apresentada por Edith Stein e da totalidade psíquica por Jung. São Paulo: Editora Dialética, 2024. 452 p.

Autor

  • Soraya Cristina Dias Ferreira

    Doutora (2020) e Mestra (2011) em Ciências da religião pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e Instituto Junguiano de MG/AJB (2003-2004). Graduada em Psicologia (2002) e licenciada em Psicologia (2001) pela Universidade FUMEC/MG. Psicóloga, Professora e Palestrante no Instituto Superior Pedagógico Público de Nuestra Señora de Chota no Peru (2005). Participou da formação de Analista Junguiana pelo Instituto C. G. Jung MG/ICGJMG, filiado à Associação Junguiana do Brasil/AJB e à International Association for Analytical Psychology/IAAP (2006-2010). No período doutoral participou de cursos e congressos (presenciais e online) promovidos pela Universidad de la Mística, CITeS Ávila/Espanha.
    Atualmente participa dos grupos de pesquisa: Religião, Educação, Ecologia, Libertação e Diálogo - REDECLID/PUC Minas e Pensamento steiniano/SP.
    É membra do GT AION - Interdisciplinaridades da Pesquisa em Psicologia Analítica no Brasil, grupo de trabalho cadastrado na Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP/ CNPq-Capes) e da Comissão de Orientação em Psicologia, Laicidade, Espiritualidade, Religião e Outros Saberes Tradicionais do CRP-Minas (CLEROT).
    Atua nos seguintes temas: Psicologia Profunda, Saúde Mental, Psicologia e Religião, Edith Stein, Espiritualidade e Mística. Tem experiência na área de Psicologia Clínica com ênfase em Psicologia Analítica Junguiana.
    Autora dos livros Freud & Jung: do complexo de Édipo à alma naturalmente religiosa e O humano a caminho de um centro mais profundo: leituras da alma da alma apresentada por Edith Stein e da totalidade psíquica por Jung.
    Participa da divulgação do pensamento steiniano Estudos Integradores da Pessoa Humana. Site (https://edithstein.com.br/) e Instagram @avidadeedithstein

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